Roda de conversa entre coletores de diversos grupos durante o 17º Encontrão, em setembro de 2022 na aldeia Moygu (TIX) (foto: Erik Vesch/Cama Leão/ISA)

Retrospectiva 2022: retomada dos encontros presenciais marca os 15 anos da Rede

Data da publicação: 22/12/2022

Balanços da Rede

A gente está na rede, mas não estamos parados! Confira o que rolou na Rede de Sementes do Xingu em 2022, ano em que completamos 15 anos

Com o avanço da vacinação contra a covid-19 em todo o Brasil, nós da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX) finalmente pudemos voltar a realizar atividades presenciais com mais segurança. O retorno ao presencial foi marcado por celebrações: afinal, em 2022, completamos 15 anos de vida com diversidade.


“Este foi um ano de retomar as atividades em campo, de voltar a nos reunir presencialmente, ano de alinhamento e de ver como o nosso trabalho é forte e coeso. Uma fonte de resistência. Seguimos firmes com nossa missão de fortalecimento da sociobiodiversidade”, diz Bruna Ferreira, diretora da ARSX.


O ponto alto das festividades ocorreu entre os dias 8 e 10 de setembro, no Território Indígena do Xingu (TIX). O 17º Encontrão, realizado pela Rede, reuniu cerca de 210 pessoas, entre coletores, colaboradores, parceiros e apoiadores, para uma animada festa de aniversário.



Essa diversidade socioambiental construída em rede também foi celebrada através de premiações. Em 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, a Rede de Sementes do Xingu foi anunciada como uma das 10 organizações vencedoras do Prêmio Equatorial, promovido pela ONU.


De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), fomos premiados por “promover a igualdade de gênero e mostrar a importância de situar os conhecimentos tradicionais e as soluções baseadas na natureza no centro do desenvolvimento local”.


Em abril, a Associação foi mencionada com um dos cinco casos de sucesso que ganharam destaque na publicação “Desafios para Ganhar Escala na Restauração e o Papel da Sociedade Civil”, do Diálogo Florestal.


Trabalhos realizados pela autonomia das comunidades


Além de germinar novas florestas, o trabalho de coleta de sementes para restauração gera renda e abre portas para a autonomia e a diversificação de atividades econômicas sustentáveis nos grupos de coletores da ARSX. Para que esse trabalho continue, as equipes de Restauração Ecológica, Produção e Qualidade e Comunicação promoveram cursos, encontros e oficinas com diferentes temas para coletores e parceiros que atuam nos territórios.


Jovens apresentam dança durante Encontrão, na aldeia Moygu, em, setembro 2022 (foto Erik Vesch/Cama Leão/ISA)


Em maio de 2022, a Juventude da Rede de Sementes do Xingu voltou a se reunir em um encontro na cidade de Nova Xavantina (MT). Inspirados nas escrevivências da escritora Conceição Evaristo, os jovens realizaram atividades com objetivo de retomar as rédeas de suas histórias, costurando essa grande teia de sociobiodiversidade em que estão imersos, cada um de seus corpos ocupando um território diferente.


O resultado desse trabalho foi a publicação do livreto “Escrevivências dos Jovens da Rede de Sementes do Xingu”, uma compilação de cartas e histórias ancestrais narradas pelos participantes.


Outra publicação de 2022 foi o “Livro do Coletor – Guia para autogestão e boas práticas da Rede de Sementes do Xingu”, uma versão atualizada do Guia de Gestão. O livro impresso em capa dura, distribuído aos coletores e parceiros, é um manual completo sobre o modo de funcionamento da Associação Rede de Sementes do Xingu.

Criança indígena folheia o “Livro do Coletor” durante o 17º Encontrão, na aldeia Moygu (TIX), em setembro de 2022 (foto: Erik Vesch/Cama Leão/ISA)


Formações nos territórios


Para gerar consciência sobre os objetivos da Rede de Sementes do Xingu e engajar comunidades em ações a favor da floresta em pé, foram promovidas formações, como a 1ª Formação de Restauração Florestal com Muvuca.


Realizado no assentamento Bordolândia pela ARSX em parceria com a Associação Agroecológica Caminho da Paz (Acampaz), o curso foi dividido em quatro etapas: planejamento, preparo do solo, plantio e monitoramento. O plantio foi realizado em novembro, e o último módulo da formação está previsto para o primeiro bimestre de 2023.

Foto após o plantio (e antes da chuva), em frente à placa indicando detalhes sobre a área de restauração plantada em mutirão no assentamento Bordolândia, novembro de 2022 (foto: arquivo ARSX)


Em julho, aconteceu o 1º Curso de Técnicas de Apresentação, Contação de Histórias e Treinamento de Imprensa, para a formação da primeira turma oficial de porta-vozes da Rede de Sementes do Xingu.


Essa primeira formação foi voltada para representantes de equipes e integrantes de diferentes áreas da Rede, que são constantemente convidados para palestras e entrevistas. Durante o curso, os participantes conheceram técnicas para falar em público, tiraram dúvidas sobre atendimentos à imprensa e participaram de treinamentos.


No início do semestre, a Rede também realizou uma sessão de diagnóstico e planejamento juntamente com os alunos do ensino médio e técnico em Agroecologia da Escola Estadual Jaraguá, no assentamento de mesmo nome, onde moram coletores do Grupo Guara Lupus.

Primeira turma de porta-vozes da Rede de Sementes do Xingu, após o dia de oficina no escritório em Nova Xavantina (MT) (foto: Ludmilla Balduino/ARSX)


Assembleia e eventos internos


Na véspera do Encontrão, a 7ª Assembleia Geral foi realizada com a presença de representantes de 16 Grupos Coletores no Polo Pavuru, Território Indígena do Xingu, em setembro. 


A principal pauta foi a alteração do endereço da Associação Rede de Sementes do Xingu para a cidade de Nova Xavantina, em Mato Grosso. Dentre os motivos, estão a logística facilitada, a presença de um grupo de coletores consolidado, e a parceria com a Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), em que a Rede ajuda a manter o laboratório de análise de sementes. A mudança de endereço foi aprovada por unanimidade.


Participantes da Assembleia 2022 escutam a apresentação do Conselho Fiscal, no Polo Pavuru (TIX) (foto: Ludmilla Balduino/ARSX)


No fim de novembro, os elos dos Grupos Coletores da Rede reuniram-se em Canarana e Nova Xavantina (MT) para atualização, planejamento e confraternização. Ao todo, 21 Grupos Coletores – de um total de 26 grupos – estiveram presentes nos eventos, que duraram três dias seguidos.


O evento durou três dias seguidos e teve duas etapas. Na primeira, ocorreu uma reunião dos elos indígenas em Canarana (MT), e na segunda, o encontro geral em Nova Xavantina (MT), com participação de elos de 21 grupos. Foram repassados o fluxo de trabalho dos Grupos Coletores, com atualizações de boas práticas para identificar, coletar, beneficiar, armazenar e transportar sementes.


Encontro Geral dos elos em Nova Xavantina (MT), em novembro de 2022 (foto: Tenile Vicenzi/Senselab/ARSX)


Semeamos florestas nos territórios de coleta


Com a trégua da pandemia de covid-19, a equipe de restauração intensificou os mutirões de plantios de muvucas de sementes nos territórios de coleta. Em 2022, foram realizados 13 plantios em diferentes formatos, com uma característica em comum: a diversidade de espécies.


As florestas foram semeadas em áreas dos assentamentos da agricultura familiar Bordolândia (durante a Formação em Restauração), Manah e Caeté, e também nos Territórios Indígenas Marãiwatsédé e Pimentel Barbosa, do povo Xavante. No total, foram cerca de seis hectares restaurados com sementes da ARSX.


Turma do mutirão de plantio no assentamento Manah posa para foto na frente da muvuca de sementes, em novembro (foto: Lara Castagnolli/ARSX)


Intercâmbios e mini-expedições


Por ser um modelo inspirador de organização econômica e socioambiental, a Rede de Sementes do Xingu recebeu convites para participar de intercâmbios e eventos em localidades para além da sua área de atuação, e também recebeu três visitas que renderam mini-expedições.


Visando contribuir para a formação de redes de coleta de sementes em outros territórios para além do Xingu-Araguaia-Teles Pires, A Rede esteve em junho no território do povo indígena Avá-Canoeiro, na Ilha do Bananal (TO), para atividades de intercâmbio.


Uma das atividades do intercâmbio no território do povo indígena Avá-Canoeiro foi uma oficina de muvuca de sementes (foto: Amanda Lelis/ACT-Brasil)


Durante o encontro, promovido pela Equipe de Conservação da Amazônia (ACT Brasil), coletores e colaboradores puderam conhecer de perto a realidade deles, enquanto que os Ãwa (assim eles se denominam) receberam apoio no planejamento da restauração de 10 hectares do território que ocupam.


Também em junho, estivemos no Partnerships for Forests Forum 2022, em Londres, Reino Unido. Organizado pela instituição Partnerships for Forests (P4F), que arrecada fundos de apoio a projetos relacionados à sociobiodiversidade, o Fórum foi um momento importante para ampliar a rede de contatos com apoiadores e investidores.


Representantes de instituições com modelos econômicos sustentáveis – entre elas a ARSX – participam de encontros com apoiadores no Partnerships for Forests Forum 2022, em Londres (foto: divulgação/P4F)


Em agosto, uma caravana da Rede participou da 13ª Feira de Troca de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, que reuniu agricultores quilombolas da região. O evento promoveu reencontros entre coletores de sementes, fortalecendo nossa rede de afetos e colocando em evidência o trabalho com as sementes nativas para reflorestamento.


E em outubro, outra caravana esteve na Aldeia Multiétnica, em Alto Paraíso de Goiás, para o 1º Encontro do Redário. Durante quatro dias, cerca de 200 pessoas, entre eles coletores, técnicos, pesquisadores e representantes de entidades parceiras, participaram de atividades de capacitação, alinhamento e troca de experiências para a formulação do Redário – uma reunião das redes de coleta de sementes de base comunitária no Brasil.


Cleusa Nunes de Paula, elo do mais novo Grupo Coletor da Rede de Sementes do Xingu, o Paraíso, participa de oficina de identificação e fotografia de espécies nativas durante o Primeiro Encontro do Redário na Chapada dos Veadeiros, em outubro de 2022 (foto: Luana Santa Brígida/ISA)


A Rede ainda participou de diversos eventos, como mesa redonda e exposição do filme “Fazedores de Floresta” no Sesc Piracicaba em outubro; e a “Feira de Inovações: Intercâmbio de experiências em Cadeia de Valor da Amazônia Legal”, ocorrida em dezembro em Cuiabá (MT).


Quando a Rede de Sementes do Xingu recebe visitas, são realizadas mini-expedições por áreas de coleta e áreas restauradas com muvucas de sementes. Os visitantes também têm a oportunidade de conhecer de perto alguns coletores, restauradores, além do escritório e da Casa de Sementes que ficam na cidade de Nova Xavantina (MT). 


Cacique José Xavante escuta áudio durante visita da equipe de produção do podcast Casa Floresta, Território Indígena Pimentel Barbosa, abril de 2022 (Foto: Pedro Hassan/ISA)


Em abril, recebemos nossos primeiros visitantes do ano: a equipe de gravação do podcast Casa Floresta, produzido pelo Instituto Socioambiental (ISA). Na programação da viagem, estivemos na aldeia Ripá, Território Indígena Pimentel Barbosa. O resultado foi a publicação do episódio “O Futuro é uma Semente Germinada”, sobre a Rede de Sementes do Xingu.


Em novembro, recebemos visitas de parceiros da Rainforest Noruega para um encontro de instituições inscritas em editais da ForEco, em Nova Xavantina, e realizamos uma mini-expedição com os parceiros ISA, Conservation International (CI), e na programação visitamos áreas restauradas com muvucas de sementes – e também participamos de um plantio – em uma das propriedades do Grupo Agropecuária Fazenda Brasil, também em Nova Xavantina.


Colaboradores e parceiros participam de plantio de uma enorme muvuca de sementes em propriedade do Grupo AFB, zona rural de Nova Xavantina, novembro (foto: Manoela Meyer/ISA)


Os números da produção de 2022


O ano de 2022 consolidou o alto potencial de produção de sementes nos Grupos Coletores. Ao todo, comercializamos 30,5 toneladas de sementes para restauração ecológica, o suficiente para reflorestar 772 hectares de áreas degradadas. O volume de vendas gerou uma renda de R$914.720,30 repassada diretamente aos coletores. Ao longo desses 15 anos, totalizamos os seguintes marcos:


  • 330 toneladas de sementes coletadas
  • Mais de 220 espécies de plantas nativas
  • R$ 7 milhões repassados diretamente aos coletores
  • 8 mil hectares recuperados em plantios com parceiros
  • Cerca de 27 milhões de árvores plantadas


Melhoramos a estrutura física


Entre as melhorias na estrutura física da Rede de Sementes do Xingu em 2022, está a Casa de Sementes do Grupo Kwarujá, do povo indígena Kayabi, inaugurada no Território Indígena do Xingu em julho de 2022.


Casa de Sementes do Grupo Kwarujá, inaugurada em julho de 2022 (foto: Apayatu Waurá/ARSX)


Também houve a compra de dois carros modelo Fiat Strada, que foram úteis para a realização de atividades e para melhorar a logística em torno das sementes.


Com a aprovação em Assembleia da mudança de endereço para a cidade de Nova Xavantina, a Rede pretende construir o escritório central e a Casa de Sementes em 2023. A estruturação física da Rede conta com apoio de projetos nos quais a Associação está inscrita.


E o futuro?


Bruna Ferreira conta que para 2023 a Rede de Sementes do Xingu tem expectativas de se inscrever em novos projetos, construir a sede nova, aumentar o número de áreas de restauração e gerar mais renda para as comunidades através da coleta das sementes. “O próximo ano será de muitos eventos também, para que mais pessoas possam conhecer a Rede e que ela siga inspirando futuras redes Brasil afora”, diz.


Coletores do Grupo Ripá semeiam área de restauração ecológica ao lado da aldeia de mesmo nome, no Território Indígena Pimentel Barbosa, em dezembro de 2022 (foto: Marcelo Okimoto/Opan)