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Na retomada das atividades presenciais da juventude, participaram jovens e integrantes das equipes da Rede de Sementes do Xingu (foto: Denise Costa/ARSX)

Jovens da Rede encontram-se pela primeira vez após a pandemia

Data da publicação: 01/06/2022

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Encontro teve como proposta a retomada do lugar de fala dos presentes em relação à história de cada um deles, e ajudou a reforçar a união da turma, formada por diferentes culturas e modos de vida

Por Ludmilla Balduino

Da Rede de Sementes do Xingu


A Rede de Sementes do Xingu realizou o seu primeiro encontro presencial de jovens depois de um longo hiato causado pelo isolamento da pandemia. O encontro teve a participação de 23 jovens, e foi realizado nos dias 28 e 29 de maio de 2022, em Nova Xavantina (MT), onde fica a sede da Rede.


Inspirados nas escrevivências da escritora candidata à Academia Brasileira de Letras, Conceição Evaristo, os jovens da Rede de Sementes do Xingu retomaram as rédeas de suas histórias, ajudando a costurar essa grande teia de sociobiodiversidade em que estão imersos, cada um de seus corpos ocupando um território diferente.


São territórios de coletas de sementes nativas, também ocupados por suas mães, tias, avós, ao longo de décadas (e muitas vezes, centenas de anos). Territórios ancestrais, indígenas, da agricultura familiar e urbanos, de transição entre Amazônia e Cerrado, localizados nas bacias dos rios Xingu, Araguaia e Teles Pires, em Mato Grosso, que no total somam 319 mil km² – uma área maior que a Itália.


Como foi o encontro?


Depois das atividades, a juventude fez um passeio pela cidade de Nova Xavantina (MT) e conheceu o Rio das Mortes, um dos afluentes do rio Araguaia que a Rede de Sementes do Xingu ajuda a preservar (foto: Claudia Araújo/ARSX)


No dia 28, os jovens iniciaram o encontro, mediado pela enfermeira e geógrafa Núbia Vieira Cardoso, que trabalha junto a comunidades tradicionais desde 2009, comparando o encontro com uma viagem de canoa por um rio. Cada participante deveria relatar com qual expectativa estava embarcando na canoa.


Em seguida, abriu-se um espaço para que todos mencionassem nomes de pessoas que são imprescindíveis para a existência da Rede de Sementes do Xingu. Os participantes foram convidados a abrir uma caixinha escondida atrás de um tapume, e ao abrir, se depararam com um espelho. ”O objetivo desta dinâmica foi trazer a importância da participação e auto-estima para cada jovem, celebrando a importância e horizontalidade de cada um na composição em rede”, diz Núbia. 


As reações foram diversas: alguns saíam surpreendidos, porque de fato imaginaram outras pessoas. Outros saíram aos risos, surpresos de ver a própria imagem.


Em seguida, os jovens construíram um mapa com elementos simbólicos. Cada participante levou um objeto-símbolo, como anel, sementes de olho de cabra e de caju, bolsa com grafismo Kawaiwete, cocar do povo Ikpeng, e até água do mar e grama. Os objetos foram dispostos em um mapa da região, nos mesmos pontos de onde eles saíram.


Na foto, Suzana Pivotto, Bruna Ferreira, Amanda Kayabi, João Carlos Pereira, Denise Costa e Ana Claudia Barbosa escutam a narrativa de Arcângelo Xavante, de azul


No momento de escrevivências, os participantes foram convidados a escrever uma carta para seus antepassados ou falar sobre eles. A partir dos relatos, os jovens foram incentivados a criar algum material artístico.


Os grupos produziram desde desenhos, à música indígena do povo Yudjá, apresentada por todo o grupo, e também um rap autoral chamado “Ka’a na ripá”. Na letra do rap, a turma contava as histórias de vida dos participantes, misturando os idiomas português, xavante e kawaiwete.


Além dos jovens, também participaram Bruna Ferreira, diretora executiva da Associação Rede de Sementes do Xingu, Claudia Araújo, gerente de produção e qualidade e coordenadora do projeto voltado para o fortalecimento da Juventude da Rede, e João Carlos Pereira, técnico em restauração da Rede, bem como elos e jovens que participaram de formações anteriores da juventude.


As atividades de fortalecimento da juventude na Rede são financiadas pela Rainforest Noruega através do projeto “Diversidade Socioambiental em Rede: saberes, práticas e conservação no Xingu Araguaia”.


“O encontro foi muito bom. Nesses dias, aprendemos muitas coisas com os jovens, das histórias das vivências de cada um. Compartilhamos nossas experiências e ao mesmo tempo aprendemos uns com os outros”, relata Amanda Kayabi, facilitadora e técnica entre os Grupos coletores indígenas do Território Indígena do Xingu.


O objetivo dessa formação é o fortalecimento da juventude na Rede de Sementes do Xingu, incentivando a formação de líderes e criando espaços de fala e de escuta, com trocas de informações, boas ideias, boas práticas e soluções. 


Assim, o trabalho de coleta de sementes para restauração pode continuar germinando florestas, gerando renda e abrindo portas para a diversificação de atividades econômicas sustentáveis e autonomia nos grupos de coletores da Rede.


Os jovens ainda terão um espaço para apresentações durante o Encontrão de 15 anos da Rede de Sementes do Xingu, que deve acontecer em setembro de 2022, no Território Indígena do Xingu.


Milene Alves, que está no grupo da juventude da Rede, tira uma selfie com novos e antigos integrantes, durante o primeiro encontro presencial dos jovens pós-pandemia de covid-19 (foto: Milene Alves/ARSX)