Encontro Geral dos elos da Rede de Sementes do Xingu ocorreu em um hotel fazenda nas margens do Rio das Mortes, em Nova Xavantina (MT). Foto: Tenile Vicenzi/Senselab/ARSX
Data da publicação: 05/12/2022
Reuniões tiveram presença da maioria dos elos dos 26 grupos que compõem a Rede de Sementes do Xingu e foram realizadas entre os dias 27 e 29 de novembro de 2022
Gestores dos Grupos Coletores indígenas e não-indígenas participaram de dois encontros para atualização, trocas de conhecimentos e planejamento do trabalho com a Rede de Sementes do Xingu.
O primeiro encontro, exclusivo para os elos indígenas, foi realizado em Canarana (MT) no dia 27 de novembro, e contou com a participação de representantes dos seis povos indígenas que fazem parte da Rede de Sementes do Xingu: Ikpeng, Kawaiwete, Matipu, Xavante, Waujá e Yudjá. Ao todo, 21 Grupos Coletores – de um total de 26 grupos – estiveram presentes nos eventos.
Esse encontro começou com uma atualização sobre as funções do elo, que é o gestor dos grupos coletores e realiza diversos papeis para organizar todo o trabalho com a Rede de Sementes do Xingu. Um trabalho que envolve desde o planejamento coletivo da coleta das sementes, até o transporte das sementes coletadas para as Casas de Sementes.
“O trabalho do elo é um serviço pesado. Ele é responsável pelas sementes dos coletores”, disse Aturi Kayabi, elo do grupo Vila Nova/Tapawia.
Participantes apresentam o funcionamento dos grupos durante o encontro dos elos indígenas, em Canarana (MT). Fotos: Ludmilla Balduino/ARSX
No encontro, os elos trataram de assuntos em comum aos coletores indígenas, como apoio para logística (as sementes do Território Indígena do Xingu são transportadas de barco, por exemplo), e tiraram dúvidas sobre o modo de funcionamento das Casas de Sementes – que estão sempre em contato com eles para organizar a logística de entrega de sementes coletadas em cada grupo.
“Esse encontro foi importante para que os elos indígenas estejam na mesma página, e criem fluxos de trabalho que facilitem todos os outros fluxos de trabalho da Rede. Além disso, foi muito bom conhecer melhor alguns elos recém-chegados e fortalecer relações com quem já realiza esses trabalhos nos grupos há muitos anos”, disse Claudia Araujo, coordenadora e facilitadora dos Grupos Coletores.
“A reunião dos elos indígenas foi muito boa porque falamos muito sobre como é o nosso trabalho, que é feito em rede. Isso ajuda as pessoas a entender a complexidade da Rede de Sementes do Xingu, e quando a gente entende esse trabalho, passa a trabalhar com mais consciência e um sentimento de pertencimento maior. Assim, evitamos uma intensa circulação de elos nos Grupos Coletores e trabalhamos pelo fortalecimento de cada um dos grupos indígenas que faz parte da Rede. Conseguimos analisar situações e enxergar o que pode melhorar em diversos detalhes sobre o trabalho. Foi muito positivo”, avalia Amanda Kayabi, facilitadora dos trabalhos dos grupos indígenas do Território Indígena do Xingu.
Elos indigenas e equipes da Rede de Sementes do Xingu na foto oficial do encontro realizado em Canarana (MT) no dia 27/11. Foto: divulgação
Nos dias seguintes à reunião dos elos indígenas, 28 e 29 de novembro, a Rede de Sementes do Xingu realizou a Reunião Geral dos Elos/Gestores, em Nova Xavantina (MT). Estiveram presentes elos de 20 Grupos Coletores diferentes, entre grupos formados por povos indígenas, agricultores familiares, moradores de zonas urbanas, e grupos misturados (com presença tanto de coletores de cidades quanto de assentamentos da reforma agrária).
O primeiro momento da reunião foi destinado a relembrar os passos que já foram dados em reuniões anteriores. Os encontros dos elos vêm sendo realizados desde 2015, quando os participantes decidiram tomar a decisão prática de realizar a divisão da encomenda de sementes por grupo, e não mais individualmente, otimizando o fluxo de trabalho. Também foi relembrado o Curso Sementes Socioambientais, realizado em 2016, o Guia de Gestão, lançado em 2017, a criação do fluxograma de trabalho da Rede, em 2018, e a instituição do Comitê Diretivo em 2019.
Bruna Ferreira, diretora da Rede, fala sobre o trabalho dos elos nos grupos coletores. Foto: Ludmilla Balduino/ARSX
Em seguida, os presentes apresentaram as dificuldades relacionadas ao trabalho de coleta de sementes. Entre as dificuldades em comum a quase todos os grupos, está a expansão das queimadas e das lavouras, e a consequente perda de árvores-matrizes para realização de coletas de sementes de qualidade. Também falou-se sobre os acessos limitados à energia elétrica e à internet, especialmente nos grupos indígenas que vivem nos Territórios Indígenas Marãiwatsédé, Pimentel Barbosa e Xingu.
No dia 29, os elos começaram a reunião com atualizações a respeito do calendário anual de atividades, que precisa ser respeitado para otimizar toda a produção e o envio das sementes para o plantio de novas florestas. Também falou-se sobre a qualidade de sementes e o limite de peso para cada saco (no máximo 30 quilos). Foram propostas mudanças nos itens e campos da ficha com informações sobre cada lote de sementes, que deve ser preenchida pelos elos com apoio dos coletores.
Laiane Korte (esquerda) fala sobre o funcionamento das Casas de Sementes na manhã do dia 29/11. Foto: Ludmilla Balduino/ARSX
Com objetivo de facilitar o trabalho dos coletores, Milene Alves, membro do Comitê Diretivo, apresentou técnicas de identificação entre sementes de espécies da mesma família, como as diferentes mirindibas, os ipês, as morcegueiras, as carobas… Também foram expostas as diferenças entre a amescla e o mangue.
“Como o material tinha fotos e uma descrição com linguagem simples, o pessoal absorveu muito fácil. A Rede já vem trabalhando isso há algum tempo. Não é algo novo, todos já sabiam o que significa nome científico, por exemplo. Então pudemos aprofundar melhor na questão, que era diferenciar espécies-irmãs. É um processo contínuo, e dessa vez criamos um bom modelo para as próximas apresentações”, diz Milene.
Coletoras e elos indígenas comentam sobre o conteúdo distribuído durante o encontro. Foto: Ludmilla Balduino/ARSX
Clique nos links abaixo para fazer o download dos materiais:
Como diferenciar mirindibas, ipês, morcegueiras, angelim, caroba, amescla e mangue
Combinados sobre a qualidade das sementes
Os últimos momentos do Encontro Geral dos Elos foram dedicados aos sonhos. Cada participante foi convidado a desenhar um cenário ideal, pensando em como estaria a Rede de Sementes do Xingu daqui a 10 anos. No meio da atividade, os desenhos foram trocados, e cada um completou o desenho do outro.
“No começo pareceu um desafio, mas ao trocarmos os desenhos, notei que nossos sonhos são coletivos e têm muito em comum”, disse Laiane Korte, guardiã da Casa de Sementes de Canarana (MT), durante o evento.
Entre os sonhos que foram sonhados juntos, estão Casas de Sementes em todos os Grupos Coletores, pagamento de salário aos elos, aumento do número de coletores e o reflorestamento.
No fim, o sentimento geral era de otimismo e esperança em relação ao trabalho que cada um realiza dentro da Rede de Sementes do Xingu. “Esse foi um momento ímpar para a Rede. Um momento de alinhamento, de olhar para o que tem dado certo, o que tem dado errado, um olhar para dentro dos grupos… Foi um momento de compartilhar também os modelos de gestão que são exemplo que podem ser replicados pelos elos dos 26 grupos que a Rede atua. Os elos saem desse encontro que não pudemos realizar nos anos pandêmicos fortalecidos com conteúdos que vão melhorar a gestão interna, com combinados repactuados e nossa missão fortalecida.”, diz Bruna Ferreira, diretora executiva da Rede de Sementes do Xingu.
Os encontros dos elos fizeram parte do projeto Projeto FAM/19/25 - ARSX, Muvuca de Sementes é Muvuca de Gente, apoiado pelo Fundo PPP-Ecos financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES, por meio do Contrato de Aplicação de Recursos Não Reembolsáveis no 18.2.0488.1, firmado entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e o ISPN.
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